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As “não” conversas com Ele

Num dado instante, cheguei a conclusão de que Ele não me escutava mais. Não adiantava suplicar desesperada, o ouvido Divino fora lacrado pelo vento.

Logo agora que precisava tanto da voz Dele? Nesta hora em que a minha alegria estava desfeita, e que minha angústia tinha retornado mais infundada do que antes? Logo agora que me sentia mais solitária do que nunca? Só sei que com isso passei a sentir medo, daqueles bem idiotas que nos fazem dormir de luz acesa e assustar-se com trovoadas.

Depois disso, seguiram-se noites dormidas ao atropelo, de sono entrecortado por pesadelos toscos, onde nossos temores mais tolos tornam-se realidade. Dias em que não tenho o teu abraço, e nem o colo afetuoso de Meu Pai, para despedaçar-me em lágrimas.

Tanto tempo sem escrever e me sai isso. Tudo porque sempre quero muito mais da vida e nunca estou satisfeita com o que tenho. E diante de tanta dor, dissimulada rezo, na tentativa de que me ouças. Fico desviando da verdade e das realidades de que me envergonho, do triste papel que temo representar: o de ser eu mesma.

E faço isso querendo ser qualquer pessoa, mas sem talento algum para ser ficção. Colocando a culpa do meu não ser em um Deus que supostamente não me escuta.

E encerro este ensaio de conversa como quem jaz, que jamais se deu por satisfeita e que consideramdo-se sã, pensa que pode conversar com Deus. Vou ficar à espera da voz Dele. Apenas acrescentarei uma placa de aviso: “Pai, aqui padece uma alma eternamente aflita.”

Janina Stasiak, Porto Alegre, 14/01/2008 – 00h15

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