Cura pelos Clássicos de Ficção: A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar
Book review de um clássico moderno (ao menos para mim): A mulher que escreveu a Bíblia, do escritor gaúcho Moacyr Scliar.
Décimo sétimo post-resenha de livro da serie Cura pelos Clássicos de Ficção.
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Moacyr Scliar – escritor gaúcho falecido em fevereiro de 2011 – era formado em medicina, especialista em saúde pública e professor aposentado. Apesar de ser um autor contemporâneo, resolvi trazer para esta série de posts sobre clássicos da literatura pelo fato de ser um dos mais relevantes escritores brasileiros, e que precisa estar na sua lista de leituras.
Claro que existem muitos outros, mas preciso confessar que esse era o livro de um autor gaúcho que eu tinha em mãos. Assim que providenciar os demais, podem ter certeza de que essa lista vai crescer bastante.
Outro fato que não posso esconder é o de que Moacyr Scliar tem muitos livros relevantes para a literatura brasileira. Basta uma rápida espiadinha na extensa lista de publicações dele e verá muitos nomes de obras bem conhecidas do público em geral (nem me arrisco a postar todas aqui, pois a lista é gigante).
E também que tem diversas obras caracterizadas como realismo fantástico (nada tão profundo, mas ainda assim, fantástico) e é exatamente o tipo de história que quero contar em meus livros! Mas isso é pauta para outras conversas.
Sobre o livro A mulher que escreveu a Bíblia
Em A mulher que escreveu a Bíblia, publicado em 1999, Moacyr Scliar utiliza a paródia para recontar passagens da Bíblia. Neste romance, um historiador convertido em terapeuta de vidas passadas – que sabia ser um charlatão – atende uma mulher que afirma ter sido uma das setecentas esposas do rei Salomão – e que a mesma teria recebido a tarefa de escrever o livro sagrado.
Esta mulher, é a mais feia de todas as esposas, mas a única que possui um dom que desperta a curiosidade do rei Salomão: ela sabe ler e escrever. O desenrolar da história é muito sobre como ela foi incumbida para essa tarefa importante de escrever o livro mais importante da história da humanidade, e o desfecho é sobre o destino que ela teria.
“Eu leio a Bíblia de maneira literária”, declarou Moacyr Scliar em uma entrevista. Por ser um leitor contumaz do maior best seller da história, o escritor sempre utiliza passagens dos textos “sagrados” em seus livros. Para Scliar, a cultura bíblica é decisiva no processo de formação do Ocidente, explorando manifestações sobre as paixões humanas, e capta tudo aquilo que nos caracteriza como seres humanos.
A mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar e a importância da releitura
O que mais tem me fascinado nesta serie que escrevo sobre os meus clássicos (eu juro que quando digo isso, não estou pretendendo me nivelar ao célebre Ítalo Calvino) é que reler, depois de tanto tempo, tem sido como ler um livro novo. Este livro de Moacyr Scliar em especial.
Ok, talvez a minha memória esteja me prejudicando, mas eu não lembrava do “mote” para o começo do romance – de que “A mulher que escreveu a Bíblia” teria contado esta história para um “terapeuta” que fazia regressão para vidas passadas. Eu lembrava vagamente do miolo da história, ou seja: o que se passa com uma das esposas do Rei Salomão que seria a autora do livro sagrado.
Alguns pontos interessantes que me fazem recomendar essa leitura:
- primeiramente, a prosa de Scliar. Acho incrível como – ao menos nesse livro – ela flui muito fácil e quando você vê, já chegou ao fim do livro.
- ele usa uma linguagem bem descontraída e de baixo calão, vamos assim dizer, algo totalmente inesperado em se tratando de um livro que também fala sobre a Bíblia. tenho certeza de que muita gente não vai gostar e pode até achar desrespeitoso. Eu apenas vejo como um recurso usado para deixar bem claro que é uma sátira.
- tem um capítulo inteiro falando sobre como a personagem principal é feia. O que eu acho magnífico, pois é preciso ser muito criativo e inteligente para que isso seja algo divertido (e ele é brilhante nesse ponto), sem ser maçante, falando por tantas páginas sobre um mesmo assunto.
É uma leitura fundamental para quem gosta de enredos bem construídos e um pouco fantasiosos, que usam de referências um tanto quanto paupáveis – neste caso, a Bíblia. Mas eu tenho uma grande ressalva, que preciso assinalar, mesmo que sem deixar qualquer vestígio de spoiler.
Eu não gostei do final. Achei muito vago. Parece que faltou fôlego criativo, achei sinceramente que “a feia” merecia um final mais elaborado. E isso era algo que tinha esquecido da minha primeira leitura. Mas eu perdôo Moacyr Scliar por isso, pois entendo que ele pode ter se gastado, afinal são muitas publicações e esta é uma das últimas de sua extensa carreira como escritor.
Vou tentar trazer alguma obra mais antiga dele, para ver se me sinto menos frustrada. Se você tiver interesse nessa e outras obras do escritor, a Amazon tem muito livro dele e por preços interessantes. Confira no link: https://amzn.to/3LfR4Uf
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