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De quando ainda não éramos cronicamente on-line – Crônica 1

Sobre Grande Sertão: Veredas, sarau literário e a poética de Guimarães Rosa que serve para poucos (e bons).

A quem possa interessar, eu terminei a leitura de Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa). Mas não foi agora, foi ainda em 2021, logo após a publicação dessa review aqui. Volto ao tópico por um “gatilho”: eu vi um dos perfis literários que sigo segurando uma edição do livro, e memórias distantes entraram pela janela aberta dos meus olhos.

Memórias de quando ninguém aqui, era cronicamente on-line. Sim, já existiam redes sociais, mas ninguém passava metade do dia grudado na tela do celular (até porque, se você não sabe, as telas dos próprios eram minúsculas).

Eis que no ano de 2007, quando estudei Grande Sertão: Veredas na graduação em Letras, coincidiu com o debate sobre esse livro em um famoso “sarau literário” de Porto Alegre. Fomos assistir quando a minha leitura estava em andamento, mas ao invés de me empolgar mais, voltei para casa um tanto quanto desertificada.

Tudo porque a mediadora da conversa não leu o livro e disse que não leria; o “especialista” do debate (e professor de literatura brasileira) se absteve de falar do livro como se não o tivesse lido (espero estar enganada, mas também não duvido nada) e o convidado estava o tempo todo constrangido por estar lendo e gostando do livro.

Naquela época eu realmente não mensurei o estrago que esse tipo de postura pode fazer em possíveis leitores, mas hoje categorigamente digo: não podemos normalizar que pessoas públicas falem (ou no caso, debochem) mal de livros que não leram. Mas entendo quem começa a ler e não persiste ou não gosta: Guimarães Rosa é para poucos.

Nem todo mundo tem a capacidade intelectual de compreender a grandiosidade das grandes obras literárias. E está tudo bem, poucos são capazes de assimilar tanta profundidade. Já aceitei que o mundo é, em sua maioria, feito de pessoas rasas.

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