Falta pouco
Quase lá, em todos os sentidos. Peraí, tem um que estou lá faz tempo. Provavelmente é o meu deleite, coisa única. Confesso, o verdadeiro e único amor da minha vida.
Logo Ele estará quites comigo…se bem que não, ainda falta muita coisa a ser conquistada. Para algumas tenho pressa, para outras, nem tanto. É inimiga da perfeição, sabe?
O que me mata é a falta de agilidade de alguns. Sim, sempre quero tudo para ontem. Que mal há nisso? Mal nenhum, os outros que se danem. De tanto ser devagar é que muitos ficam para trás. Posso não ser sempre a primeira – não gosto de holofotes – mas jamais serei a última. Se algum dia perder o jogo, quero revanche.
E tira esse olho gordo de cima de mim que meu anjo é muito mais forte do que a tua inveja possa supor. Eu fora, porque estou quase lá, faltando pouco. Enquanto isso, faço de conta que sou como os outros, para não chamar a atenção. Como?
Veja isso:
“Éramos um monte de existentes incomodados, embaraçados conosco mesmos; não tínhamos a menor razão para estar ali, nem uns nem outros; cada existente confuso, vagamente inquieto, sentia-se a mais em relação aos outros. A mais: era a única relação que eu pudera estabelecer entre essas árvores, essas grandes, esse calhaus. ( … ) E eu – mole, enlanguescido, obsceno, digerindo, balançando mornos pensamentos – eu também estava a mais (*).”
Então, por hora estou a mais. Mas falta pouco, muito pouco. Me aguardem.
Janina Stasiak, 03/10/2007
* Jean-Paul Sartre, La Nausée.
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