Insegurança e substituição de valores
As crianças de duas, três e até quatro décadas atrás eram crianças de verdade, que faziam cabanas, subiam em árvores, construíam carrinhos de rolimã, gostavam de ganhar bonecas e carrinhos de brinquedo no Natal. Violência para elas resumia-se às palmadas que recebiam após pequenas delinqüências, como castigo paterno. Todo o resto eram coisas que só faziam parte do universo das histórias em quadrinhos. Hoje, são as principais vítimas dos crimes mais hediondos.
Os adolescentes e jovens de duas, três e até quatro décadas atrás, em sua grande maioria, eram rebeldes mesmo sem causa alguma. Gostavam de ouvir música alta, experimentar drogas lícitas e ilícitas e foram muito mais liberais do que seus pais em termos de sexo. Os de Q.I. mais elevado tornaram-se intelectuais ou militantes políticos. Estes, na década de 60, sofreram com a repressão e a ditadura, e conheceram a violência cruel por não poder falar e nem fazer por um país melhor. Para os outros, a violência nua e crua raramente fazia parte do seu universo. Hoje, eles são a maioria dos mortos por atos marginais, assim como os principais disseminadores.
Os adultos de duas, três, quatro décadas atrás eram pessoas normais. Comemoravam as datas tradicionais de cada ano, ocupavam-se com a família, com uma sólida carreira profissional, em dar uma boa educação para os seus filhos. Suas maiores preocupações eram sobre política, economia e desenvolvimento nacional. Tinham bom gosto musical. Violência para eles só existia na televisão, ou só era presente na vida dos outros. Hoje eles não sabem mais o que fazer para resolver uma situação que poderia ter sido evitada.
Os idosos de até bem pouco tempo atrás – coisa de menos de duas décadas – eram extremamente produtivos: cultivavam hortas e jardins, cuidavam muito bem de animais e crianças, bordavam, tricotavam, tomavam mate e jogavam cartas. Preocupavam-se com a febre dos netos ou com as pragas das hortaliças. A noção de violência deles era idêntica a da falta de respeito: nem se comenta, se recrimina. Hoje eles nem conseguem perceber onde foi que erraram para que o país encontre-se nesta calamitosa situação de violência.
Se hoje nossa sociedade encontra-se totalmente diferente de como era há algumas décadas atrás, principalmente em termos de “visão de mundo”, é porque sofremos uma profunda inversão de nossos valores sociais e, infelizmente, ainda não sabemos exatamente como lidar com isso.
É óbvio que a sociedade sofre mudanças, mas como fazer que todos usem isso de uma forma positiva? Resgatando aqueles valores que sempre foram essenciais para o bom desenvolvimento de qualquer ser humano: respeito pela nossa vida e dos outros. Educação, sobrepondo-se ao consumismo cada vez mais deturpador. E isso começa em casa, continua na escola, e segue pela vida inteira. De nada adianta nos protegermos excessivamente contra a marginalidade, se não nos protegemos contra a falta de amor e respeito à vida.
Janina Stasiak, 23/04/2007
Falsos gremistas Quando percebi que não era mais criança