La ansiedad
Estranha sensação de que algo nada rotineiro ou convencional está para acontecer. Acordo pensando em outra língua e tenho sobressaltos com qualquer coisa que esteja fora do lugar. Pobre organismo alucinado recebendo injeções furiosas de adrenalina…
Não que não goste do improvável, mas como saber o que me espera? Ah, esta curiosidade ainda me mata! Enquanto isso, enlouqueço aos outros com enérgicas e incessantes procuras, pedidos, convites, numa tentativa de organizar as coisas em um universo eternamente caótico.
“Hay que empezar las ventanas!”, foi o primeiro pensamento que me ocorreu quando acordei na manhã de ontem. Não estou ficando louca, apenas passei a ter pensamentos traduzidos para o espanhol, enquanto frases do livro que estou lendo perambulam por minha mente, entre coisas racionais e outras nem tanto.
Concluo, sem que nada possa comprovar, que sempre que leio o livro “Cem anos de solidão”, de G. G. Marques, sou tomada por uma ansiedade sem motivo. E qual a razão de reler tantas vezes o mesmo livro? Insano seria se o fizesse seguidamente, e não com intervalo de anos como tenho feito esporadicamente. Provavelmente, como a personagem Úrsula fala neste livro genial, o faço porque o mundo dá voltas e tenho agora a mesma ansiedade que tinha quando li o livro pela primeira vez, aos dezessete anos.