Inércia
E chegou o dia que não quis mais me mexer. Via meu rosto branco e sem vida em frente ao espelho, e me surpreendia o azul opaco de manhã nublada que meus olhos tinham. Na mente a imensa vontade de nada mais ser do que pedra.
Queria que minhas lembraças evaporassem, que minhas lágrimas parassem de ensopar infinitamente meus travesseiros, que eu não tivesse mais a garganta entalada por não conseguir dizer nada. Enfim, queria não ser nada além de um objeto inerte. Queria não ser mais capaz de sofrer.
Queria somente a inércia de uma pedra, com a música do “Metallica” soando em meus ouvidos até o fim dos tempos. Na verdade, eu já não queria mais nada, pois querer era a maior prova da minha exitência. Mas rastros de esperança morriam em mim dia após dia, e eu ainda não era pedra. Eu ainda sentia. E chorava, e ouvia calada.
Até chegar o dia em que de tanta triteza, parei. Era o dia em que nada mais sentia de tanto sofrer. E que nada mais queria, de tanto perder. Era o dia em que meu silêncio perturbava os outros, dia em que minha presença tropeçava. E foi o único dia em que meu sorriso fez falta aos que me amam.
E depois desse dia nada mais sofri, apenas ouvi. E vivi depois disso, na PAZ inerte de uma pedra. Haviam me tirado a vida e tudo que nela busquei. Eu já não era mais nada além de uma pedra em sua inércia.
Janina, 21/03/2002