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“Não ver, você, não tem explicação. É caminhar, pela escuridão. Ficar, a fim, e não poder falar, querer o sim, e não se acostumar, com a solidão, o medo de amar…” – esse trecho da música “Vem pra cá”, do Papas na Língua mexeu profundamente comigo desde o primeiro instante que soou em meus ouvidos. Porque determinadas músicas nos são tão significativas? Aquele frio na barriga, uma falta intensa, mas de quê?

Depois de alguns anos de experiência – sim, quando passamos dos 25 anos, tudo começa a ser calculado em anos – descobri que este sentimento em relação à determinada música tem origem no momento em que estamos vivendo. Ora essa, nada de anormal em querer ver alguém que está longe…pelo menos de nossos olhos. Mas precisa sentir tudo isso?

O problema reside no fato de que se pensa que esse sentimento provocado pela música – e pela falta da pessoa – vai passar em poucos dias…mas já se foram semanas e a cada dia, a vontade de olhar nos olhos, de ouvir a voz, de tocar, de abraçar (muito, pois sou adepta da terapia do abraço – mas isso é assunto para outro texto), de sentir o cheiro, continua mais intensa. Que fazer com isso? Que fazer com essa saudade que ultrapassou as fronteiras da mente e passou a ser necessidade física de alguém? Céus, eu daria tudo para abraçar aquela pessoa, neste instante.

E tudo começou com aquela música. Ainda bem que não sei precisar o dia. Mas cada vez que a ouço…fecho os olhos e saboreio a lembrança daquele sorriso, daquela voz. E nada posso fazer além de escrever…ora, sentimentos são como lágrimas: precisam ser externalizados. Do contrário, atrofiam a alma e a tornam inútil. Será que escrever supre essa necessidade de externalização? Espero, sinceramente, neste momento que sim.
E encerro estas divagações com uma poesia de Mário Quintana que também fala de “ausências”.

Mário Quintana - Imaginação Fértil

O poeta gaúcho Mário Quintana.

Operação Alma

Há os que fazem materializações…
Grande coisa! Eu faço desmaterializações.
Subjetivações de objetos.
Inclusive sorrisos,
Como aquele que tu me deste num dia com o mais puro azul de teus olhos…
E nunca mais nos vimos.(Na verdade, a gente nunca se vê).
No entanto, há muito que ele faz parte de certos estados de céu
De certos instantes de serena,
Inexplicável alegria,
Assim como um vôo sozinho
Põe um gesto de adeus na paisagem,
Como a curva de um caminho
Anônima,
Torna-se as vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo.

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