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Cura pelos Clássicos de Ficção: Cem Anos de Solidão

Uma crônica quase sentimental sobre o livro Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez.

Segundo post crônica de livro da serie Cura pelos Clássicos de Ficção!

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Uma verdadeira obra-prima da literatura latino-americana. Cem Anos de Solidão do colombiano Gabriel García Márquez dispensa apresentações, e se você ainda não leu, sinto muito pois está adiando uma das experiências literárias mais significativas da sua vida.

Mas, de fato, este livro não é uma indicação para quem procura uma mensagem ou algum tipo de aprendizado. É uma história para quem gosta de ficar imerso em um outro universo – no caso, o universo mágico e surreal de García Márquez. Um livro que muitos começam a ler e desistem logo no começo, por conta de um fator que para muitos, causa estranhamento e confusão: os nomes se repetem. São muitos Aurelianos, vários José Arcádio.

Só que se você já passou dos 40 como eu, sabe que é fácil perder-se entre tantas pessoas que vão e vem. Duvido você lembrar dos nomes dos seus colegas de escola do quinto ano, das suas professoras, dos seus colegas de trabalho do começo da carreira. Nossa vida é cheia de lembranças repetidas, e se você se lembra de todos estes nomes que te questionei, te libero da leitura deste livro. Mas só deste.

Sobre o livro Cem anos de solidão, palavras do próprio autor

Segundo Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão é a materialização do universo fantasioso no qual ele cresceu. Muito do que vemos neste livro vem do fato dele ter sido criado pelos avós, em uma casa cheia de mulheres onde ele e o avô eram os únicos homens, e este avô, conversava com ele como se ele fosse um adulto.

Vivia entre dois mundos, onde um lhe falava da realidade, da guerra, de política (ele passava muitas horas do dia na companhia do avô). E onde o outro (à noite), passava com as várias mulheres que habitavam a casa, e que segundo ele, viviam em um mundo sobrenatural. Um mundo fantástico onde tudo era possível.

E foi das memórias desse período de intensa dualidade que ele viveu na infância, que surgiu a inspiração para escrever Cem Anos de Solidão – e assim retratar a Colômbia (e a cidade de Aracataca, mais especificamente) tal qual ele conhecia. Em uma entrevista, afirmou que a ideia de usar uma família e suas várias gerações para retratar o universo mágico cultural do povo colombiano veio após a leitura de O Tempo e o Vento, do escritor brasileiro Érico Veríssimo.

Na minha própria Macondo

Eu tinha 17 anos quando li Cem Anos de Solidão pela primeira vez. Comecei em uma quinta-feira e terminei na madrugada de sexta para sábado daquela mesma semana. O impacto daquela leitura foi tão grande, e eu estive tão submersa na atmosfera de Macondo, que precisei começar uma segunda leitura no mesmo dia em que encerrei a primeira, como forma de libertar-me.

Não é uma leitura fácil. Admito que fiquei perdida com os muitos Aurelianos que começaram a surgir lá pelo meio da trama. E também não acho que este seja um livro que possa nos trazer qualquer tipo de ensinamento. Entra aqui, nesta lista de livros clássicos onde proponho a cura pela ficção, pelo fato de ser denso.

Tão denso que ao mergulhar no universo ficcional de Garcia Márquez, acabei fugindo da realidade por alguns dias. Tudo ao meu redor era lodo, e eu esqueci completamente dos problemas vividos na minha própria Macondo.

E daí surge a minha teoria de que toda pessoa tem um lugar no mundo onde sempre se perde. Entre sentimentos intensos, lembranças duras, a parte da família de quem quer desvencilhar-se. Onde tenta fingir que aquele mesmo sangue não corre em suas veias, onde o ar pesa tanto quanto o passado que hoje lembra mais um pesadelo difuso.

A cura em ler Cem Anos de Solidão está em perder-se, para poder encarar a sua própria Macondo.

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