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É preciso sangrar

Uma faca surge estraçalhando a carne e o que cai não é um dedo, mas um bife. Não sangra e isso preocupa, afinal, sabe que dali não sairá o melhor corte. Mas no fundo o fio da faca doía-lhe a mente, pois chovia e tudo o que ele menos queria era estar entre pedaços gigantes de bois e facas afiadas.

Era preciso sangrar para surgirem os versos e a chuva tinha o fio de uma navalha em sua inspiração, feitos como os cortes mais finos, um legítimo filé mignon. Mas como livrar-se daquela fantasia surreal de açougueiro, se era ela que garantia o dinheiro paro o carreteiro de todas as noites?

Um porco berrava nos fundos do local no exato instante em que ela entrou. Sorriu maviosa como sempre e no instante seguinte já me pediu um bife suculento. Naquele momento tudo pareceu sangrar ante minha visão há muito perturbada: a chuva que caía era sangue, a faca que eu segurava tinha formato de punhal. E já não era mais a cabeça que estourava pedindo papel e caneta, era o pulso que sangrava, mas feliz pela possibilidade de versos.

Minha mãe havia me ensinado alguma coisas, entre elas que para o bife ser bom, era preciso sangrar.

Janina Stasiak, 22/10/1979 – 11h16

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