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Cura pelos Clássicos de Ficção: a tetralogia Duas Amigas, de Elena Ferrante

Abrindo espaço para um clássico moderno, hoje trago a resenha da tetralogia de Elena Ferrante, Duas Amigas.

Décimo segundo post-resenha de livro da serie Cura pelos Clássicos de Ficção.

Em algum lugar dessa internet de meu Deus comentei que iria intercalar a leitura de Clássicos da Ficção antigos com livros modernos. Para balancear as leituras e me atualizar também, afinal andava me sentindo uma E.T. no universo dos book lovers, pois não havia lido nada de moderno nos últimos tempos.

Para tanto, li e resenhei aqui A Biblioteca da Meia-Noite e depois de começar a leitura de Dostoiévski, resolvi investir na tetralogia de Elena Ferrante. E foi uma grata surpresa, pois realmente apreciei a leitura desta serie (e já quero ler os outros!).

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Mas antes da minha resenha, um adendo sobre escritor, antes de falar da obra. Eu simplesmente amei o fato de Elena Ferrante ser o pseudônimo de uma autora desconhecida. Segundo o jornalista investigativo Claudio Gatti, por trás da escritora anônima estaria a tradutora italiana Anita Raja – revelação que gerou muita polêmica.

O vazamento das contas bancárias da editora italiana Edizione e/o e o rastreamento das compras de várias propriedades em Roma e na Toscana levaram Gatti a concluir que, por trás do pseudônimo literário sobre o qual mais se tem sido escrito no século 21, estava a tradutora, esposa do escritor Domenico Starnone. Afinal, o velho mantra de “siga o dinheiro” é uma bomba informativa ou uma intrusão inaceitável?

Ferrante protegeu sua verdadeira identidade com cuidado e explicou claramente as razões que a levaram a optar pela “ausência, não o anonimato”. Sua ideia é que o texto é o que importa, e o que o jornalista fez foi pesquisar as contas de uma escritora.

Elena Ferrante começou a publicar suas obras nos anos 90, e, apesar da adaptação de um de seus romances para o cinema, foi apenas com a publicação de A Amiga Genial, o primeiro volume da tetralogia Duas Amigas, que a escritora despontou na arena internacional. A chamada “febre Ferrante” se espalhou pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha… Segundo Gatti, a escritora tem mais de dois milhões de livros vendidos.

À medida que o fenômeno de seus livros crescia, a especulação sobre quem era Elena Ferrante se multiplicava, e a verdade é que os nomes de Starnone e Raja foram mencionados vez ou outra como os verdadeiros autores (juntos? só ele? ela?) por trás das obras de ficção. Starnone sempre negou os rumores.

O esforço para desvendar o “mistério Ferrante” fez até com que a Universidade La Sapienza de Roma comparasse livros de vários autores italianos com as obras da autora, e o algoritmo destacou a semelhança com o trabalho de Starnone. O fato de que a esposa do escritor napolitano trabalhava como tradutora para a mesma editora de Ferrante desde os anos noventa aumentava as suspeitas. Os rumores chegaram ao ponto de defender que, por trás de cada livro de Elena Ferrante, havia um escritor diferente. Ela então disse: “Evidentemente, em um mundo onde a educação filológica praticamente desapareceu, onde críticos não estão atentos ao estilo, a decisão de não estar presente como autor gera más intenções e esse tipo de fantasias”.

Isso justifica passar por cima da vontade da escritora? “Esse é o scoop [furo jornalístico] de um jornalista que não está interessado em literatura. Quem é Elena Ferrante não é importante, e sim seus livros”, argumenta em uma conversa telefônica o escritor Nicola Lagiola, vencedor do Prêmio Strega em 2015, e autor de uma das poucas entrevistas por e-mail concedidas por Ferrante. “Um escritor tem o direito de dizer coisas que não são verdade, não é um político. Italo Calvino contava uma mentira sobre sua vida em cada entrevista que concedia, porque se divertia. A literatura é ficção.”

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A Tetralogia Duas Amigas, de Elena Ferrante

Desconheço quando foi a última vez que me senti tão envolvida por um livro (no caso, uma serie) do que quando estive lendo recentemente os quatro livros da serie Duas Amigas, de Elena Ferrante. Muito mais do que pela história, mas como esta história estava sendo contada – tal qual o desejo da autora que vive no anonimato.

Quem também escreve, vai entender a emoção na qual me envolvi, pois é difícil encontrar escritas que nos inspirem, que sejam realmente diferentes e que façam nossa cabeça fervilhar. Afinal de boas histórias o mundo está cheio, mas notáveis contadores de histórias de ficção, são poucos.

Os livros perpassam toda a trajetória de duas mulheres que se conhecem desde a infância – e até aqui, nenhuma novidade – boa parte vivida no subúrbio de Nápoles. Sou suspeita para falar, pois realmente amo esta região, mas além de descrever um lugar cujo caos, história e geografia me fascinam, despertou em mim curiosidade sobre tudo na Itália do século 20.

Claro que em vários momentos me questionei o quanto do que li teria base em experiências pessoais de quem escreveu, pois estamos falando de um relato em primeira pessoa riquíssimo em detalhes, sentimentos, reflexões da narradora. Mas o que ficou mesmo foi o desejo de pelo menos tentar fazer algo parecido no livro que estou escrevendo agora (mesmo sendo ele com zero elementos autobiográficos).

E não se preocupem, serei bem pouco ambiciosa, e não pretendo contar uma história em quatro volumes. Ao menos não neste livro que estou trabalhando agora. E por isso deixo este clássico moderno como referência para quem também quer se aventurar na escrita.

Nas fotos, os quatro livros que fazem parte da tetralogia “Duas Amigas” em ordem: A Amiga Genial, História do Novo Sobrenome, História de quem Foge e de quem Fica, História da Menina Perdida.

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